Um dia de cada vez…

Elocubrações de uma mulher em transformação

Em caso de vertigem… 21/02/2011

É cada coisa que eu sei, ouvi falar, aprendi ou ouvi que nem eu mesma acredito. Por exemplo, algo que ouvi e nunca mais esqueci é que pilotos de avião em treinamento aprendem que, em caso de vertigem, devem focar em seus aparelhos e confiar neles, não importa o que aconteça.

Vertigem é aquela sensação de desorientação, de uma tontura rotatória que pode ser acompanhada de náuseas, vômitos, ilusão de movimento etc.

Esse estado de confusão espacial ocorre quando o cérebro recebe informações contraditórias a respeito do espaço vindas dos vários órgãos sensoriais que temos (dos quais o principal, nesse caso, é o vestíbulo do ouvido).

Nós podemos ter vertigem quando nos levantamos rápido demais, mas pilotos de avião e mergulhadores podem senti-las com frequência em seu ambiente de trabalho. Isso ocorre porque não encontram ali pontos de referência que orientem a direção de seus movimentos. Assim, um piloto em uma curva com um avião a 800 km/h pode muito bem acreditar que está em linha reta – não chega nem mesmo a perceber que está no meio de uma crise.

Na realidade, costuma-se dizer que um dos maiores ajustes que uma pessoa em treinamento para voar precisa fazer é adquirir a disposição de aceitar que, em determinadas condições, seus sentidos podem estar errados.

Nesse momento, a pessoa deve deixar de lado todos os seus instintos e confiar apenas naquele ponto de referência que pode conduzi-los até a crise passar. No caso dos pilotos, nos aparelhos do avião; no caso do mergulhador, qualquer ponto, ainda que as bolhas de ar soltas pelo sistema de respiração.

Conversando com uma amiga esse final de semana, eu notei o quanto essa lição é interessante não apenas para pilotos e mergulhadores, mas também em nosso dia a dia.

Muitas vezes, as sensações que experimentamos são tão intensas que tiram nossos pés do chão e nos vemos perdidos, confusos, sem saber o que fazer. Nesse momento, qual será nosso aparelho, nossas bolhas?

Quem acompanha este blog já há algum tempo sabe que a senhora procrastinação periodicamente resolve fazer uma visita a esta que vos escreve. Às vezes, ela aparece, mas vai embora rapidamente. Às vezes, aparece para ficar por bem mais tempo do que o desejável. Algo que tenho notado funcionar nesses momentos é focar em atividades pequenas e simples, nada muito assustador. Uma receita simples.

Outras pessoas podem ter problemas no setor de relacionamentos amorosos, porque, venhamos e convenhamos, este é um ponto que não é fácil para ninguém. Estimulada pelos medos tatuados a fogo na mente reativa, a pessoa quer correr, mas também quer ficar e ver o que aquilo pode dar. O que fazer nesse momento? Qual pode ser um ponto de referência que nos ajude a atravessar essa selva desconhecida?

Acredito que apenas por questionar o que sente uma pessoa já pode se sentir afortunada. Pontos de referência? Talvez seja algo pessoal demais, que cada um precise descobrir por si, mas conversar sobre o que sente é, com certeza, já um bom começo.