Eu tenho uma gata. Ela foi a única sobrevivente da primeira cria de uma gata de rua que rondava minha casa. Nós a amamentamos com mamadeira desde os quatro dias de vida, e, hoje, está com quase dois anos. Ela é linda, uma sobrevivente de fato.
Ela é uma caçadora. Desde que começou a conseguir andar sozinha e descobriu que havia um papagaio em outro cômodo da casa, ficava em posição de ataque embaixo do viveiro dele, à espera de um momento para pular. Desde que percebemos isso, a porta fica fechada e verificamos duas vezes se ela não conseguiu se infiltrar, ainda que o papagaio seja bem esperto.
Ela é uma camicase. Ela fica na janela do quarto da minha irmã e espera os cachorros se afastarem, quando estão à distância segura, ela pula e espera a reação deles para voltar para o quarto. Começamos a fechar a janela quando não havia ninguém por perto, mas ela descobriu que poderia sair pela sala.
Ela é brincalhona. Nós brincamos de pega-pega (sim, eu brinco de pega pega com minha gata e com um dos meus cachorros, e eles sabem brincar) de vez em quando, um pega-pega misturado com um esconde-esconde, num jogo de caça. Ela adora e demora para parar.
Mas, acima de tudo, minha gata é só sensações.
Ela tem seu espaço próprio e não gosta que a segurem por muito tempo, mas quando vem pedir carinho, ela é só sensação.
Ela é só sensação quando se estica toda com aquela calma para tomar banho, parecendo uma bailarina, ou quando se espreguiça na cama sob os raios de sol pela manhã.
E, quando ela é só sensação, ela me acalma.
Gatos gostam muito de computador em razão do calor que emana deles; por isso, sempre que estou ao lap, afogada em trabalho, pelo menos um dos dois aparece e pula no teclado, como se fosse a coisa mais óbvia e mais importante do mundo.
Que lhes importa que eu não consiga preencher a página em branco?
Que lhes importa se eu não consigo terminar de ler todos os artigos que me proponho a ler?
Que lhes importa qualquer outra coisa se o que eles buscam é o calor?
Eu olho para ela ou para o outro gato e penso como gostaria de ser um pouco mais como eles.
Só um pouquinho mais de sensação.
Sentir mais, pensar menos e, quem sabe, até mesmo parar de racionalizar tudo ao meu redor.
Um dia de cada vez... 